A week lying under a Magnolia tree
O propósito
No Verão de 2021, estava eu de férias na ilha da Madeira, fui contactado pelo Designer Miguel Palmeiro que dirige o estúdio United By, para elaborar uma ilustração para o Portugal dos Pequenitos. Passadas as férias e mais uns tempos encontramo-nos para falar sobre a proposta. Mal sabia eu que me estava a preparar para passar uma semana deitado debaixo de uma árvore magnolia.
O Miguel Palmeiro estava a desenvolver um grande projecto de design de museografia para a Fundação Bissaya Barreto, que consistia na reconfiguração dos pavilhões expositivos do Portugal dos Pequenitos. Pretendia que integrar-me no desenvolvimento do pavilhão da Guiné Bissau, aquele que primeiro se vê logo à entrada. A ideia era pendurar a raiz de uma árvore de caju, muito significativa na Guiné Bissau, agarrando assim a metáfora da raiz daquela cultura.
Neste sentido, o meu contributo passava por desenvolver o desenho da copa da árvore em plano contra-picado, para que o espectador que caminha à volta da raiz, pudesse ver a copa da árvore ao olhar para cima.
The purpose
In the summer of 2021, I was on vacation on the island of Madeira, and I was contacted by Designer Miguel Palmeiro, who runs the United By studio, to create an illustration for Portugal dos Pequenitos. After the holidays and some more time, we met to talk about the proposal. Little did I know that I was preparing to spend a week lying under a magnolia tree.
Miguel Palmeiro was developing a major museography design project for the Bissaya Barreto Foundation, which consisted of reconfiguring the exhibition pavilions at Portugal dos Pequenitos. I wanted to be part of the development of the Guinea Bissau pavilion, the one you first see at the entrance. The idea was to hang the root of a cashew tree, very significant in Guinea Bissau, thus capturing the metaphor of the root of that culture.
In this sense, my contribution involved developing the design of the tree’s crown in a counter-slanted plane, so that the viewer walking around the root could see the tree’s crown when looking up.
A oportunidade
Embora o desenho de observação seja a minha cena, não fazia sentido nem teria qualquer viabilidade económica deslocar-me à Guiné Bissau para desenhar uma autêntica árvore de caju. Tratei de pesquisar acerca de árvores parecidas com o cajueiro e apercebi-me que a configuração das magnólias visualmente próxima. Tanto no desenho da copa, como no desenvolvimento dos ramos e, também na dimensão das folhas.
Rapidamente me lembrei que à distância de 5 minutos a pé de casa tinha um jardim de magnólias, com zonas de relvado e outra de deck, perfeitos para me deitar a desenhar.
Dito e feito. Programei as deslocações em função das previsões climáticas mais favoráveis segundo o boletim meteorológico do IPMA e reservei uma semana para desenhar. Uma semana deitado debaixo de uma árvore magnolia.
The oportunity
Although observational drawing is my thing, it didn’t make sense nor would it have any economic viability to go to Guinea Bissau to draw an authentic cashew tree. I tried to research trees similar to cashew trees and realized that the configuration of magnolias was visually close. Both in the design of the crown, in the development of the branches and also in the size of the leaves.
I quickly remembered that just a 5-minute walk from home there was a magnolia garden, with areas of lawn and another area of deck, perfect for me to lie down and draw.
No sooner said than done. I scheduled my trips based on the most favorable weather forecasts according to the IPMA weather report and set aside a week to draw. A week lying under a magnolia tree.
A produção
Num desenho com uma duração tão prolongada, muitas vezes a eficácia passa mais por garantir bons níveis de conforto ao longo de tantas horas, do que por questões de ordem técnica. Por exemplo, ter uma manta daquelas da feira de Barcelos e uma boa almofada, arranjar um prancha com muitas folhas de desenho para manter a base fofa e várias molas segurar as folhas, ter sempre acesso a um café por perto, etc.
The production
During a drawing with such a long duration, effectiveness often depends more on ensuring good levels of comfort over so many hours, rather than on technical issues. For example, having a blanket from the Barcelos fair and a good cushion, getting a board with lots of drawing sheets to keep the base fluffy and several springs holding the sheets, always having access to a cafe nearby, etc.
Quando se está a desenhar deitado de papo para o ar, com o bico da caneta virado para baixo, a tinta da caneta vai correr para o topo, deixando muitas vezes o bico seco. É muito importante ter várias canetas disponíveis, para manter o ritmo de desenho, senão tem de se estar sempre a parar, à espera que a tinta volte ao bico. É também necessário ter sempre uma folha para riscar, garantido que o traço sai sempre perfeito, sem falhas.
When you are drawing lying face down in the air, with the pen nib facing downwards, the ink from the pen will run to the top, often leaving the nib dry. It is very important to have several pens available, to maintain the drawing rhythm, otherwise you will always have to stop, waiting for the ink to return to the nib. It is also necessary to always have a sheet of paper to scratch, ensuring that the line is always perfect, without flaws.
É engraçado que ao passar uma semana deitado debaixo de uma árvore, se consegue desacelerar ao ponto da nossa percepção detectar como as folhas das árvores se movem. De manhã para a tarde em função da exposição solar, do vento e sabe-se lá mais de quê. Folhas que se compõem entre si, que se ajustam, que se enquadram sem se tocarem. Sente-se a reciprocidade proxémica.
It’s funny that by spending a week lying under a tree, you can slow down to the point where your perception detects how the leaves of the trees move. From morning to afternoon depending on sun exposure, wind and who knows what else. Leaves that are composed of each other, that adjust, that fit together without touching. Proxemic reciprocity is felt.